sábado, 14 de novembro de 2009

Obras


Amapá

Grandioso torrão Brasileiro,
Amapá empório juvenil;
Tu vais ser, oh! Torrão pioneiro;
O mais belo do nosso Brasil!
Elevado por gênio fecundo,
A grandeza , ao progresso sem par;
N´Amazônia, celeiro do mundo,
Tu vais ter destacado lugar!

Teu passado é um hino de glórias,
Exaltado na voz do presente;
É sacrário de belas vitórias;
Deste povo heroico e valente!

Há mais selvas, nas águas, nos campos;
A riqueza que a todos seduz;
Há mistérios, murmúrios encantos;
Que somente o teu povo traduz.

Segue a vante torrão Brasileiro;
Deste céu deslumbrante de anil;
Deus de faça oh! Torrão pioneiro;
Amapá: Coração do Brasil.

Macapá, 06 de maio de 1954.



Socialismo

Era uma vez um fidalgo
- Homem de bons predicados;
Habitante de um solar
Apenas com dois criados.

Certo dia, hora do almoço,
Causou-lhe grande surpresa
Notar que em lugar de um prato
S' tavam três, pratos na mesa.

Fez vibrar a campainha
E dos servos indagou:
Porque três pratos na mesa
Se amigos não convidou?

É que hoje, diz um deles,
Que os direitos são iguais,
Viemos comer à mesa
Assim como comem os mais.

O Fidalgo, indiferente,
Comeu, bebeu e depois,
Ainda a fumar charutos
À mesa Deixou os dois.

Dia seguinte, mui cedo,
Inda o sol não nascia,
A porta dos dois criados
O tal Fidalgo dizia:

Amigos, dêm o dinheiro
Para as compras, desta vez;
Ontem comeram comigo
Hoje eu como com vocês.

Foi quanto bastou, pra que
Á mesa não mais voltassem,
E a dita “sociedade”
No mesmo instante acabassem.

Macapá 27 de junho de 1954.




Matintaperera
(Lenda Amazônica)

Matintaperera
Passou no roçado;
Vestido encarnado
Seu corpo encobria;
E manquilitando,
Baixinho falando
Num pau se aparando,
Disfarça e assobia.

O som estridente
sumiu no deserto;
Um galo bem perto
Três vezes cantou,
De novo assobia,
Descansa, vigia,
Sorri de alegria,
Depois caminhou,

Maní, linda filha
De um sonho de amor,
Ouviu com pavor,
Matinta Silvar.
Correu pra janela
Olhou pra cancela
E viu que era ela,
Mantinha, a agourar.

Temente, nervosa,
Chamou sinhazinha,
a preta madrinha
E disse chincando:
Matinta é malvada,
maldosa...danada,
Não sabe de nada...
Mas stá me agourando.

A velha mucamba
Sismando ficou:
Mani confessou...
Oh! Bôto malvado...

Mani! … Que loucura!...
Meu Deus que tortura!...
Pois virgem mais pura
Não há no roçado.

Aflita, chorosa,
foi ter ao portão,
E logo no chão,
Deixou com fartura:
Tabaco migado,
Cheiroso melado,
Em folha espalhado
Sem ter atadura.

E aos gritos, no quarto,
Clamou: Vem brincar;
Já podes fumar
De noite e de dia,
Mani stá dormindo,
Sonhando, sorrindo,
Não está mais ouvindo
O som que assobia.

Mani, era pura
do sonho de amor,
Salvou-a o senhor,
E fê-la dormir.
No sono inocente:
Não ouve, não sente,
Não teme da gente
E aguarda o porvir.

Matintaperera
Voltou ao roçado;
Vestido encarnado
Seu corpo encobria,
Deixou de silvar,
Deixou de agourar,
Passou a fumar
De noite e de dia.

Macapá, 27 de maio de 1954


Boiuna
(Lenda amazônica)


Meu bem: Você viu
Quando o sol baixou,
A luz que brilhou
Na margem do rio?
Tão grande! Luzia...
Depois de mexia,
Que até parecia
A luz de um navio.
Mas logo apagava;
Então à distância,
Pairava numa ânsia,
Que até sufocava;
Porque se sentia
Um cheiro, uma azia,
Tal qual maresia
Que até enjoava.
Momentos depois
Nessa direção,
Mais outro clarão
Brilhava. Eram
Dois olhos vidrados,
Enormes molhados
Mortiços, pulados,
Iguais aos dos bois.
Que susto, meu Deus
Quem estava em barco
Remava apressado
Pra junto dos seus.
Foi tal ventania,
Trovão, maresia,
Que nem eu sabia,
Onde estavam os meus.
A mata gemia,
Os troncos partiam,
As águas subiam,
E ao longo se via:
A cobra danada
Boiuna chamada,
Amaldiçoada
De noite e de dia.
Meu bem:você viu
A cobra danada
Boiuna chamada,
Nadando no rio?
Não minta, confesse...
Onde´isso aconteceu?
Onde é que aparece
Se nunca existiu?
Que moço descrente!...
Aqui no roçado,
Onde fui enviado,
Cabado não mente...
boiuna é danada:
Quando estovada
Devora a dentada
E a gente nem sente.

Macapá,15 de maio de 1954







Saci Pererê
(Lenda Amazônica)

Caboclo assustado;
À luz do luar:
Se ouve estalar;
Já fica gelado.
É alma perdida?
É fruta caída?
É cobra atrevida
Ou galho quebrado?

Espera um momento;
Nervoso, sismado.
Gelado, suando,
Num grande tormento;
Depois de repente:
Vem grito dolente;
Tristonho, pungente;
Sibila, agorento.

Tremendo ficou:
Saiu, foi andando;
Olhando, escutando;
Mas nada encontrou;
Queria encontrar;
Queria avistar;
Quem sabe! Matar;
Mas nada avistou.

Somente um cipó;
Mostrava, quebrado;
Que fôra cortado;
Pertinho de um nó;
E logo na frente;
Em rastro recente;
Pegadas de gente;
Numa forma só.

Daquilo que vê;
Sismado ficou;
Depois escutou:
“Saci-pererê”
Caboclo,coitado:
Não saí do roçado;
Só vive assustado;
Nem sabe de quê...

Escuta gemidos;
Iaras, Sacis;
E Bôtos gentis;
Qual ternos maridos...
Tem lendas sagradas;
Relíquias guardadas;
Histórias contadas;
Tomando os sentidos.

Caboclo, coitado;
Não sabe o que diz;
Só vive assustado;
Mas vive feliz.

Macapá, 23 de maio de 1954.






Iara
(Lenda Amazônica)


Iara, mãe d'água
Eu vi, era linda!
Tão bela que ainda
Não pude esquecê-la:
Cabelos limosos,
Compridos, formosos;
E os olhos brilhosos
Qual luz de uma estrela.

Seu corpo era espuma
De nívea fragrância;
Que longe a distância,
Mostrava candura;
E a gente ao fita-lo
Queria abraça-lo,
Sonhava beija-lo
Com grande ternura.

À luz de luar,
Seu canto prendia
Com tanta magia
Que a vida parava;
E os sons eram beijos,
Divinos arpejos,
Carícias, mais beijos,
E a vida voltava.

Sinhá, índia velha,
Sentada ao meu lado,
De olhar espantado
Me disse: meu bem,
Iara é maldosa...
Perversa ...manhosa...
Sútil...engenhosa...
Não olhe pr'além...

Iara passou
Sem ver onde eu estava;
Seu corpo exalava
Odor de jasmim;
Iara foi indo...
Aos poucos sumindo...
E eu fui sentindo
Saudades sem fim.

Iara, mãe d'água;
Eu vi, era linda!
Tão bela que ainda
Não pude esquecê-la:
Cabelos limosos,
Compridos, formosos;
E os olhos brilhosos
Qual luz de uma estrela.

Macapá, 11 de abril de 1954.




Bôto

(Lenda Amazônica)

Silvina morava;
No seu tejupar;
E nele a cantar,
Seus dias passava;
Casinha pequena;
Com pé de açucena;
Outro de verbena
Que a moça adorava.

E o povo dizia;
Que dentro, a tapera;
De limpa que era;
Chamava...atraia...
Que tinha puçanga;
Cordoes de miçanga;
Da cor da pitanga;
Com que seduzia.

A mãe, com cautela;
Conselhos lhe dava;
Silvina escultava;
Qual meiga donzela;
Porque, na verdade;
Não tinha vaidade;
Nem tinha maldade;
Porém... era bela...

Tão simples, que um dia;
Despida na areia;
Não viu quem a via...
E desde esse instante;
Um mal excitante;
sem causa...constante...
Roubo-lhe a alegria.

Cunhã despeitada,
Maldosa espalhou:
O boto pegou,
Silvina coitada...
Eu vi, estava alheia...
Despida na areia...
Qual terna sereia...
Na praia deitada...

Silvina encontrou;
Um rosto moreno;
De porte pequeno;
Com quem namorou...
A mãe não queria,
Silvina sabia,
Que um meio existia...
E o boto pegou...

Macapá, 01 de maio de 1954.



Catedral de São José de Macapá

Erguida num passado secular,
Abriga no seu porte de grandeza
A lembrança vetusta e singular
Da arte, do trabalho e da beleza.

Seus traços ogivais emoldurando,
As janelas, as portas e os vitrais,
Parecem relógios sólidos sustentando
O estilo dos bens coloniais.

Unificando forma estrutural,
Maciço pedestal suporta o sino
Da torre que distingue a catedral.

É neste templo que os devotos seus,
Fazem a prece do sagrado hino,
A exaltação das almas para Deus.




Brasil!

Eu te saúdo, oh! Meu Brasil gigante,
Beijando com amor,teu pavilhão!
E chamo numa prece devotante,
Este brado de férvida oração!

Quero te assim: Vibrante, destemido,
Temperado de luz e liberdade;
Primeiro na defesa do oprimido,
Excluindo do crime e da maldade!

Quero sentir, nas réstias matutinas,
O germinar da fôrça consciente,
Espalhando trabalho nas campinas
E progresso por todo continente!

Em teus feitos de glórias redivivos
Anseio agrilhoar a mocidade,
Qual espelho real, de imagens vivas
Refletindo o pulsar da eternidade!

Sacrário de jornadas grandiosas,
Quero-te forte, imperativo, audaz:
Gigante nas conquistas gloriosas,
Invencível nas lutas pela paz!



Felicidade

Só é feliz quem sabe perdoar;
Só é feliz quem vive pra esquecer;
Esquecer é dar beijos e sofrer.

Vai no perdão a alma, que quem chora;
Cristalizar com a alma que pecou;
São duas almas soluçando agora;
Esquecendo um suplício que findou.

Esquecer tudo! Esquecer a própria vida!
Soluça eternamente perdoando;
Que tu serás pra sempre a preferida.

Assim minha amada sedutora:
Eu quero que me beijes soluçando;
Numa ânsia feliz e sofredora.



Coração Fracassado

Meu pobre coração: Tu fracassaste;
Sofreste a desventura de supor,
Que amando tanto quanto tu amaste
Não podia morrer tão grande amor!

Amor de coração de sentimentos;
De dores de saudade, de alegrias;
De comum tão total de pensamentos;
De sonhos a nascer todos os dias!

Amor que se refundi a cada instante;
Exaltando querer: idolatria!
Amor! Tão grande amor!
Amor constante.
Meu pobre coração: tu fracassaste.

Mas sublime na dor e na agonia:
Ao deixar de bater me perdoa.



Zenar
Porque Te Adoro?


Em primeiro lugar: porque és mulher;
Mulher – elevação de sentimentos;
Mulher que tem no peito um coração;
Transbordando de amor e sofrimento;
Adoro o teu olhar – sinceridade;
a franqueza sublime que te adorna;
Adoro o teu viver – sinceridade
que de simples, mas linda inda te torna;
Adoro o teu pensar, o teu querer:
Diferente de todas as mulheres;
Adoro a até o que te faz sofrer;
Porém, mulher o grito: Adoração!
É porque sinto que também me queres
Quando deixas falar teu coração.

Macapá,07 julho de 1954.



Minha Professora Zenar
(O seu Mundo)

Fui vê-la em sua casa pequenina,
Erguida num tapete de gramado,
com flores de fragrância muito fina,
E um jardim de flores semeado.

Ao lado tem um poço redondinho;
Na frente, na entrada, uma puxada;
É modesta, é mimosa, é quase o ninho,
De uma ave que vive enamorada.

Tem um pé de frondoso limoeiro,
Tem fruteiras sem conta, bem tratadas,
E tem, todo florido, um jasmineiro.

Ali ela se esconde da cidade;
Ali suas férias são passadas;
Ali é o seu mundo de verdade.

Macapá, 26 de junho de 1954.




Zenar Mulher
(Primeiro perfil)

Mulher, tem como todas as mulheres
O sublime defeito de mentir;
E assim pecando, nega se disseres
Que o coração nasceu pra sentir.

Não crer no grande afeto que sublime
O querer, o amor, a adoração;
Despreza a transcendência de uma estima
Porque diz que não sente o coração

Foi modelo de um sonho do senhor!
E por muito sofrer se contradiz
Inda que sinta verdadeiro amor

Não é mulher como qualquer mulher
Pode mentir, sentindo o que não diz,
Mas senti loucamente oque disser.

Macapá, 23 de julho de 1954.




Zenar Professora
(Segundo Perfil)


Ligou seu coração à sua alma;
E fez da profissão um sacerdócio;
Trabalhou e lutou; ganhou a palma
Da feliz união – desse consórcio.

Agora seu amor, amor ardente;
Na suprema virtude se conduz:
Ensinar e levar a cada instante;
Um bendito clarão, fonte de luz.

É meiga, é paciente com as crianças;
E com elas constrói lindas casinhas
simulando depois fazer a mudança.

E nessa profissão é sedutora,
Porque para ensinar as criancinhas
Deixou de ser mulher: é professora.

Macapá, 27 de julho de 1954.




Zenar Agricultora
(Terceiro perfil)


Para ser o complemento do seu mundo
Para horas seguir a pensar;
Na planta que germinar lá no fundo;
E na rosa que vai desabrochar.

Enfrenta as intempérias com bravura
Esquece que a mulher, e logo então:
Para regar as plantas, na secura;
Enverga pressurosa o macacão.

Mas quando chega a hora do sol porto:
O misticismo que a saudade encerra;
Aparece sublime, em seu rosto.
Ela. Porém senhora criadora:
Porque sente pulsar a própria terra;
Não se julga mulher: é agricultora.

Macapá, 27 de junho de 1954.






Saudade

A saudade é uma tristeza
Que faz a gente viver;
É isso que você sente
Mas que não sabe dizer.

É comida bem gostosa
Muito leve, porém, tanta:
Que a gente engole e mastiga
Mas está sempre na garganta!

É ardor adocicado
Que chega aos olhos da gente,
Quando se vê bem pertinho
Quem não está na nossa frente!

É vontade de ficar
Com os olhinhos bem parados,
E sentir que esses olhinhos
Vão ficando embaciados!

É chegar nesse momento
Que os olhos deixam de ver,
E o coração vai lembrando.
Vai fazendo aparecer!

É ter a alma bem presa,
Àquela meiga visão
Finalmente: é o nosso pranto
Sufocando o coração;

É mesminha está agonia,
Que neste momento eu sinto,
E que você acredita,
Porque sabe que eu não minto.

Macapá, 14 de julho de 1954.





Simples Comparação

Na aula de Geografia a professora Zenar ouviu,
Da turma do dia certo aluno perguntar: Este lugar
Donde estamos que se chama Macapá, onde todos nós
Moramos inda pertence ao Pará?

Estas praças grandiosas, os cinemas , as ruas largas formosas
E outras obras reais é tudo daquela terra?
Meu estado é assim tão grande e tanta riqueza
Em serra nessa cidade distante?

Escuta, Cérvolo: Aprende em simples comparação.
O enredo diferente dessa pequena lição

Supõe que uma casa enorme onde a riqueza s' expande
E Tenha um quintal desconforme, gigantesco, muito grande;
Que todo esse quintal pelo guarda desprezado informa
Justa legal, foi a outro confiado. Outro que em luta constante
E grande dedicação: nesse quintal tão distante trabalha com devoção
Ouve bem: esta cidade que pertence ao Amapá, foi um quintal desprezado
Do teu, do nosso pará; que a vontade inquebrantável, o trabalho, a honestidade,
Guindarão ao ponto invejável de tanta prosperidade.

Macapá. 13 de junho de 1954

3 comentários:

Waldemiro Gomes disse...

Anna, filha que legal vc lembrar de fazer esta homenagem para o teu vozinho, é uma pena que tantas coisas da vida dele tenha caido nas maõs de pessoas sem carater.

3 de dezembro de 2009 às 10:54
Anna Beatriz disse...

é verdade, é muito triste que o povo de Macapá não preserve o seu passado e as pessoas importantes que fizeram parte de fatos importantes para a cidade, pois assim será sempre uma cidade esquecida e sem história.

22 de dezembro de 2009 às 13:40
Anônimo disse...

Surfando no net encontrei encontrei algo para imortalizar a obra do Sr. Waldemiro, fui colega da Iolanda, e minhas irmãs da Maria do Céu, da Zenarita lembro qdo ia na casa de vcs, na Padre Julio.
Mesmo longe do Brasil guardo boas lembranças da familia.
Ilka

20 de janeiro de 2012 às 00:57